Certa vez Jesus ficou muito incomodado com o
legalismo da sua época. Ele queria curar um homem com um problema na mão e os
Mestres da Lei queriam proibi-lo pois era dia de sábado. Como na lei não se
podia fazer nada no sábado, também curar não se podia. Eles inverteram a ordem
da coisas e o ser humano passou a valer menos do que a lei. Foi então que Jesus
declarou, “peraí, o sábado foi feito para o homem e não o homem para o
sábado”. Naquela altura, homem e mulher não valiam nada diante da letra. O
que importava era uma regra escrita num livro e o ser humano que se lascasse,
afinal havia outras coisas que eram mais importantes.
Ah, que bom que se fosse só naquele tempo, mas
hoje eu fiquei estarrecido quando lia num portal de notícias, os acontecimentos
do dia. A manchete dizia: “Homem é morto na Marginal do Pinheiros, em São
Paulo” – chamou-me a atenção, pois já desconfiava que fosse uma briga de
trânsito e então me pus a ler. Fiquei chocado com a violência e a intolerância,
pois uma briga de trânsito e uma fechada maldosa resultaram numa tragédia. Mais
chocado fiquei com a reportagem que fora divulgada pelo site. Em rápidas
palavras a nota explicava o incidente. Faço questão de reproduzir aqui: “Um
motorista foi morto a facadas após uma briga de trânsito na alça de acesso da
ponte do Jaguaré para a marginal do Pinheiros, sentido Lapa, na zona oeste da
capital. O crime aconteceu às 5h35 desta sexta-feira (31), e dois homens foram
presos em flagrante pela Polícia Militar” – (cf. http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2014/01/31/homem-e-morto-em-briga-na-marginal-do-pinheiros.htm)
- a reportagem continuava com mais alguns parágrafos, foi então que a
perplexidade tomou conta de mim. O restante da notícia não falava da morte, não
mencionava o nome da vítima e muito menos dos assassinos. A preocupação agora
era o trânsito, pois os carros da vítima e agressor estavam atrapalhando o
tráfego. Continuando, os parágrafos seguintes falavam do trânsito pela cidade e
assim terminava a notícia de um trágico acontecimento.
A vida se tornou banal e assassinatos, fatos
corriqueiros. O ser humano não tem mais valor. Vale menos do que o
congestionamento na Avenida Interlagos. Vale menos do que a mega-liquidação e
vale menos do que qualquer coisa.
Um homem morre esfaqueado numa avenida
importante de São Paulo e o que mais importa é o trânsito congestionado.
Afinal, como vamos enxergar no outro a imagem e semelhança de Deus se não lhe
dou o valor devido? Estou dizendo eu e você, não o Estado ou o governo. Eu devo
valorizar o outro a partir dos mínimos gestos de respeito e cidadania. Pois
facilmente passamos a culpa para os governantes e para o governo e aí tudo fica
impessoal.
Trouxe aqui este fato, não para simplesmente
protestar, mas para que, pelo menos você, que me lê, possa refletir e
começar a viver valorizando mais o outro, do que aquilo que ele tem; para que
você se valorize mais e procure viver melhor; para que nós busquemos apreciar a
vida agora e não ajuntar tesouros e poupança para quando não tivermos mais
tempo e saúde para apreciá-las. O sábado foi feito para o homem. Ame a
sua vida e as pessoas que Deus colocou nela. Colha, da vida, tudo que ela tem
para lhe oferecer. Os tempos ruins serão aprendizados, os bons, eternizados. As
coisas foram feitas pra você e não você feito para ser dominado pelas coisas e,
que amor à vida, não seja só o nome da novela que termina hoje.
Padre Juarez