Há dois mil anos atrás, quando Jesus caminhava pelas estradas poeirentas da Galileia, sentar-se à mesa era muito mais que comer junto. Tratava-se de uma verdadeira celebração de amizade e confiança. Para a mesa só iam os muito íntimos e aqueles a quem você pudesse depositar sua confiança. Na verdade estar junto à mesa requeriam certas práticas de higiene que somente dos mais íntimos se podia exigir. Afinal não se usava pratos individuais nas refeições, muito menos talheres como se usam hoje. A comida era servida num grande prato para que todos se servissem, e então todos colocavam a mão no prato para que a comida fosse levada até a boca. Ora, aquele que senta comigo tem que ser muito amigo, pois a fraternidade se expressa nessa confiança de partilhar o mesmo prato. Naquela última ceia em que Jesus participou com seus discípulos não foi diferente. A refeição também era servida num prato comum onde todos se serviam colocando suas mãos no mesmo prato. Naquela ceia estavam os mais íntimos para Jesus. Seus amigos amados que Ele não chamava de servos, mas de amigos. Jesus então proclama: um de vocês vai me trair. Eles ficaram se perguntando quem seria e Jesus sentencia: "aquele que vai me trair coloca a mão no prato comigo" - isto significa que o traidor é alguém muito íntimo, alguém que pertence ao círculo de amizade de Jesus, mais ainda, o traidor será alguém que Jesus ama muito.
O traidor trocou seu amigo por trinta moedas. O traidor vendeu seus sonhos e projetos por um punhado de prata. O traidor trocou o amor da amizade, o carinho e a confiança pela ganância pelo dinheiro.
Sempre ficamos chocados quando escutamos essa historia da traição de Judas. Afinal, o traidor estava muito próximo de Jesus. Era alguém muito íntimo do Mestre. Mas será que mesmo chocados com esta história nos não a repetimos ainda hoje?
Consideramos Jesus muito próximo de nós, afinal somos tão religiosos. Sempre vamos à igreja em busca do conforto. E Jesus nos considera muito íntimos dEle. Chego ate comer na sua mesa quando vou celebrar a Eucaristia. E eu volto a me perguntar será que não estamos trocando Jesus por algumas moedas de prata?
Constato que sim. Vejo e até me vejo trocando Jesus pelo vil metal. Mas, hoje, as trinta moedas de prata têm outros nomes e significados. As moedas são o lazer que não abro mão e não o troco por Jesus. Moedas talvez sejam as minhas preocupações que não me deixam ter um relacionamento amoroso com Ele. Mas as moedas de prata podem ser mesmo o dinheiro que se tornou meu ídolo. Quem sabe as trintas moedas de prata não são as pessoas que tomaram o lugar de Deus? Não nos escandalizemos com Judas; nós também trocamos Jesus por muito pouco, ou até bem menos do que as malditas trinta moedas de prata. Resta-nos fazer como os outros apóstolos, que ficaram preocupados diante do anúncio de Jesus sobre a traição e se põem a perguntar: "acaso serei eu o traidor"? Pergunte-se a si mesmo: será que não estou trocando Jesus por algumas míseras moedas? Pense bem e reflita pois ainda é tempo de lançá-las fora.
Padre Juarez de Castro
Boa páscoa padre Juarez!
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